Quirguistão: outra frente da guerra pelo petróleo
No meio do renovado clima de tensão entre a Rússia e o eixo EUA-Otan no Cáucaso, em um centro estratégico da "guerra fria" pelo controle das fontes e rotas do petróleo na Ásia Central, o Quirguistão, país chave na ocupação militar do Afeganistão, ingressou em um processo de violência e de "guerra civil" que envolve por igual as duas primeiras potências nucleares do planeta. Trata-se de uma nova e perigosa frente em uma área explosiva que contém mais de 70% das reservas petrolíferas mundiais.
Um barril de pólvora. O Quirguistão, uma ex-república soviética de 5 milhões de habitantes, é um centro estratégico da "guerra fria" pelo controle das fontes e rotas do petróleo na Ásia Central.
Também conhecido como Quirguizistão, Quirguízia, e oficialmente como República Quirguiz, é um país montanhoso da Ásia Central, sem saída para o mar, que tem fronteiras com a República Popular da China, Cazaquistão, Tadjiquistão e Uzbequistão. Sua capital é Bichkek, antiga Frunzé.
O país conta com uma população de pouco mais de 5,35 milhões de habitantes, distribuídos em 198.500 km². Dividida de forma desigual, se concentra na capital, Bichkek, e nas zonas banhadas pelo rio Naryn e por seus afluentes.
Abriga uma base militar russa, uma base estadunidense e joga um papel vital no dispositivo de ocupação militar do Afeganistão.
Além disso, o processo de violência e de "guerra civil" desatado no Quirguistão é outra perigosa frente aberta em uma região petrolífera marcada pelos conflitos no Paquistão e no Afeganistão, que repercutem diretamente pelas fronteiras do Irã e a guerra latente no Oriente Médio.
O país integra a Organização de Cooperação de Xangai (OCS, na sigla em inglês), junto com a China, Rússia, Cazaquistão, Tadjiquistão e Uzbequistão.
Mas também, fazendo jogo duplo, mantém acordos com o eixo EUA-União Europeia. Recentemente, um governo pró-estadunidense foi derrubado para dar lugar a um pró-russo.
Essa situação desequilibrou a balança e a inclinou para o lado da estratégia do Kremlin, que se viu diante da possibilidade de recuperar um enclave estratégico que o "eixo ocidental" lhe havia arrebatado após a extinção da URSS.
Com o novo conflito aberto no Quirguistão, Rússia e Estados Unidos voltaram a cruzar-se perigosamente em uma região chave na disputa estratégica pelo controle dos recursos energéticos que já teve seu primeiro desenlace armado na chamada "guerra da Geórgia", em agosto de 2008.
Deslocamentos militares da Otan, a questão da instalação de sistemas de mísseis dos EUA em espaço pós-soviético, e um reposicionamento estratégico da Rússia na Abkhásia e na Ossétia do Sul, antigos territórios da Geórgia, marcam o calendário imediato de uma região de alta voltagem em termos de conflitos.
A Geórgia, ponta-de-lança da estratégia imperialista no Cáucaso, continua rodeada por aparato militar russo, enquanto que na Ucrânia (ex-aliada dos EUA) o governo está controlado por um governo pró-russo que restaurou todos os acordos estratégicos com Moscou, inclusive a permanência da base da marinha russa do Mar Negro, na Crimeia.
Ao mais puro estilo da CIA e dos serviços de espionagem ocidentais, a resposta imediata à derrubada do presidente pró-americano no Quirguistão, Kurmanbek Bakiyev, foram as "revoltas populares"conduzidas pelo derrubado.
Pouo a pouco a situação foi amadurecendo, e finalmente derivou para a "guerra civil" entre a maioria quirguiz (55% da população) e a minoria uzbeca (31% de uzbeques).
A "guerra civil" é uma metodologia que a CIA e os serviços ocidentais utilizam tanto para conquistar como para reconquistar territórios e governos.
A utilizaram (e utilizam) no Iraque, no Afeganistão, Paquistão, Sudão, Iêmen, Nigéria e em qualquer lugar onde existe petróleo ou recursos para depredar em nome da "guerra contra o terrorismo".
O Quirguistão é chave, não somente porque se encontra na área mais estratégica e explosiva do planeta, mas também porque representa uma área na disputa entre Rússia e Estados Unidos, com a China na fronteira.
A nova "guerra fria" entre Rússia e Estados Unidos é, antes de tudo, uma guerra econômica pelo controle de recursos estratégicos, com o petróleo e o gás como os dois objetivos fundamentais em disputa.
Trata-se de uma guerra )por enquanto fria) pelo controle das redes de oleodutos euroasiáticos, onde a China joga sua sobrevivência em aliança com a Rússia.
Além disso, na agenda militar e geopolítica do espaço asiático, Pequim, da mesma forma que Moscou, se situa no eixo oposto ao projeto estratégico imperialista ocidental, que militarizou a região euroasiática para desestabilizar as redes energéticas da Rússia, das quais a China é a principal beneficiária.
Moscou e Pequim, em aberto desafo à hegemonia imperialista, por sua vez construíram acordos militares estratégicos e consolidaram um bloco militar e econômico comum na Ásia em aberto desafio à Otan.
Como produto de uma "guerra civil" ativada pelos serviços de inteligência, o Quirguistão hoje está ardendo e em situação de catástrofe humanitária.
Nesse meio, Rússia e o eixo imperialista pelejam uma batalha silenciosa para ver quem fica com o controle do país.
Os Estados Unidos, que acabam de perder um enclave estratégico como a Ucrânia, que deveria exercer maior influência sobre a Geórgia durante a Guerra do Cáucaso, não pode se dar ao luxo de perder o Quirguistão.
E enquanto a CIA atiça a guerra interétnica, Moscou estuda estratégias para intervir militarmente no país, como se fosse uma "força de paz". Com outro dado anexo, que traz a sardinha para a brasa russa: 11% da população do Quirguistão é russa.
A rússia começa a buscar argumentos a partir da integração do Quirguistão à OCS, a "Otan" paralela da Ásia Central liderada por Pequim e Moscou.
De qualquer maneira, o massacre interétnico já abriu outra frente de conflito na estratégica zona do "triângulo petrolífero", que envolve a Eurásia e o Oriente Médio e contém mais de 70% das reservas energéticas mundiais.
Este é o ponto central que esconde o massacre manipulado que a mídia do sistema apresenta como uma "guerra de etnias", entre quirguizes e uzbecos.
Fonte: IAR Notícias
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