RESPOSTA DO BOM VELHINHO NOEL CUBANO PARA O JORNALISTA QUE ENTENDEU TUDO ERRADO...
O jornalista Jeffrey Goldberg, da revista The Atlantic, já conhecido por nosso público, publica partes de uma longa entrevista realizada comigo.
"Havia muitas coisas estranhas durante a minha recente estadia em Havana – conta –mas o mais inusitado foi o nível de autocrítica de Fidel Castro [...] Mas que Castro estava disposto a admitir que havia cometido um erro em um momento crucial da Crise dos Mísseis em Cuba parecia algo verdadeiramente surpreendente […] que se arrependeu de ter pedido Khruchev para lançar mísseis nucleares contra os Estados Unidos. É certo que abordou o tema e me fez a pergunta. Textualmente, como ele expõe na primeira parte de sua reportagem, suas palavras foram: "Eu perguntei: Em um momento, parecia lógico que você recomendaria aos soviéticos bombardear os Estados Unidos. O que você recomendou ainda parece lógico neste momento?” Fidel respondeu: Depois de ver o que vi, não valia a pena em absoluto."
Eu tinha explicado bem, e consta por escrita, o conteúdo da mensagem "... se os Estados Unidos invadirem Cuba, um país com armas nucleares russas, em tais circunstâncias não devemos deixar dar o primeiro golpe como fez com a URSS, quando no dia 22 de junho de 1941, o exército alemão e outras forças da Europa atacaram a URSS."
Pode-se notar que, neste breve alusão ao assunto, a segunda parte da distribuição ao público dessa notícia, que "se os EUA invadirem Cuba, um país com armas nucleares russas", neste caso eu recomendo impedir que o inimigo desfira o primeiro golpe. Há uma grande ironia na minha resposta "... Se eu soubesse o que sei agora ...", que é uma referência óbvia à traição cometida por um presidente da Rússia que, saturado de álcool, entregou aos Estados Unidos os segredos militares mais importantes do país.
Em outro ponto da conversa Goldberg diz: "Eu perguntei se ele acreditava que o modelo cubano foi algo que ainda valia a pena exportar." É evidente que a pergunta reproduzia implicitamente a teoria de que Cuba estava exportando a revolução. Eu respondi: "O modelo cubano não funciona mais, mesmo para nós." Não expressei nenhuma preocupação ou amargura. Eu me divirto agora ao ver como ele interpretou ao pé da letra, e consultou, pelo que disse, Julia Sweig, analista do CFR que o acompanhava, e desenvolveu a teoria que expus. Mas o fato é que a minha resposta significava exatamente o oposto do que os dois jornalistas americanos interpretaram sobre o modelo cubano.
Minha idéia, como todos sabem, é que o sistema capitalista hoje já não serve nem para os Estados Unidos nem para o mundo, pois conduz de crises a crises, que são cada vez mais graves, globais e reiteradas, das quais não se pode escape. Como tal sistema poderia servir para um país socialista como Cuba?
Muitos amigos árabes, ao saber que eu me entrevistei com Goldberg, se preocuparam e enviaram mensagens indicando-o como "o maior apoiador do sionismo".
De tudo isto, podemos deduzir a grande confusão que existe no mundo. Espero, portanto, que o que eu digo sobre o meu pensamento seja útil.
As ideias expressas por mim estão contidos em 333 Reflexões, vejam que casualidade, e as 26 últimas se referem exclusivamente aos problemas ambientais e ao perigo iminente de um conflito nuclear.
Agora eu devo adicionar um breve resumo.
Eu sempre condenei o Holocausto. Nas Reflexões sobre "O discurso de Obama no Cairo" e "A opinião de um Especialista", eu expus com toda clareza.
Nunca fui um inimigo do povo hebreu, que eu admiro pela capacidade de resistir durante dois mil anos à dispersão e à perseguição. Muitos dos mais brilhantes talentos humanos, como Karl Marx e Albert Einstein, eram judeus, porque é uma nação em que os mais inteligentes sobrevivem em virtude de uma lei natural. Em nosso país, e no mundo, foram perseguidos e caluniados. Porém, isto é só um fragmento das ideias que defendo.
Eles não foram os únicos perseguidos e caluniados por suas crenças. Os muçulmanos também foram atacados e perseguidos por bem mais de 12 séculos pelos cristãos europeus, por causa de suas crenças, assim como os primeiros cristãos na antiga Roma antes do cristianismo se tornar a religião oficial do império. A história deve ser aceita e lembrado como ela é, com suas realidades trágicas e guerras ferozes. Disto falei e, por isto, com toda razão explico os perigos que a humanidade corre hoje, que se tornaram o maior risco de suicídio para a nossa frágil espécie.
Se somarmos a tudo isto uma guerra com o Irã, ainda que de caráter convencional, mais valeria aos Estados Unidos apagar a luz e se despedir. Como poderiam resistir a uma guerra contra 1,5 bilhão de muçulmanos?
Defender a paz não significa, para um verdadeiro revolucionário, renunciar aos princípios de justiça, sem os quais a vida humana e a sociedade não teria sentido.
Eu ainda acho que Goldberg é um grande jornalista, capaz de expor com amenidade e maestia seus pontos de vista, que exigem debate. No inventa frases, las transfiere y las interpreta. Ele não inventa frases, apenas reproduz e interpreta.
Não mencionarei o conteúdo de muitos outros aspectos de nossas conversas. Respeitarei a confidencialidade das questões que abordamos, enquanto espero com interesse seu extenso artigo.
As atuais notícias que chegam em torrentes, de todas as partes, me obrigam a cumprimentar sua apresentação com estas palavras, cujos germes estão contidos no livro “A contraofensiva estratégica”, que acabo de apresentar.
Considero que todos os povos têm direito à paz e gozo da propriedade e dos recursos naturais do planeta. É uma vergonha o que está acontecendo com o povo em muitos países da África, onde vivem milhões de crianças, mulheres e homens, entre os seus habitantes esqueléticos, por falta de comida, água e remédios. São assombrosas as notícias que chegam do Oriente Médio, onde os palestinos são privados de suas terras, suas casas são demolidas por equipamentos monstruosos e homens, mulheres e crianças, bombardeadas com fósforo branco e outros meios de destruição, assim como dantescas cenas de famílias dizimadas por bombas lançadas sobre aldeias afegãs e paquistaneses, por aviões sem piloto, e os iraquianos que morrem depois de anos de guerra, e mais de um milhão de vidas sacrificadas nesta guerra imposta por um presidente dos Estados Unidos.
A última coisa que se poderia esperar era a notícia da expulsão dos ciganos franceses, vítimas da crueldade da extrema direita francesa, que eleva a sete mil as vítimas de outra espécie de holocausto racial. É fundamental o enérgico protesto dos franceses, aos quais, simultaneamente, os milionários limitam o direito à aposentadoria, reduzindo ao mesmo tempo as oportunidades de emprego.
Dos Estados Unidos chegam notícias de um pastor do estado da Flórida, que pretende queimar em sua própria igreja o livro sagrado do Alcorão. Mesmo os chefes ianques e europeus líderes militares em missão de guerra punitiva estremeceram com a notícia que eles consideraram arriscada para seus soldados.
Walter Martinez, o renomado jornalista do programa Dossier Venezolana de Televisión, foi surpreendido com tal loucura.
Ontem, quinta-feira, 9 da noite, chegaram notícias de que o pastor havia desistido. Seria necessário saber o que lhe disseram os agentes do FBI que o visitaram "para persuadi-lo." Foi um grande show de mídia, um caos, coisas próprias de um império que se afunda.
Agradeço a todos pela atenção.
*Líder da revolução cubana